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A Moderna Esfinge

O desafio tecnológico foi lançado e é irreversível para a vida moderna. A onda tecnológica pode, aos poucos, ocupar aquelas áreas onde nós humanos cometemos falhas. Essa onda veio para aumentar a segurança de um condomínio? O debate sobre implantar ou não a portaria virtual nos prédios é resultado direto do avanço de um novo mundo cada vez mais dependente de tecnologia. Podemos ser precipitados no gueto, caso nos recusemos a decifrar essa moderna esfinge.

“Decifra-me ou te devoro”. A sentença endereçada a Édipo nunca foi tão adequada. Muitos condomínios têm investido em tecnologia de ponta. Com a pletora tecnológica, sem dúvida tornamos mais difícil o delito contra essas comunidades que, no passado, funcionavam com um mínimo de recursos dessa natureza. Muitos prédios funcionavam apenas com o zelador, estamos agora questionando se a portaria virtual pode substituir a emblemática figura do porteiro.

Não há dúvida sobre a importância desse profissional. No entanto, a tecnologia traz consigo um viés de infalibilidade, uma vez que porteiros podem se distrair em jornadas noturnas. Há também a questão dos custos: cada portaria exige três porteiros e há prédios com duas portarias. Nesse caso são seis porteiros, sem contar com o folguista. Qual é então o custo da portaria virtual? Vai depender do perfil do condomínio. O custo depende também de uma simulação bem feita e cada empresa prestadora poderá ter cálculo próprio. A portaria virtual poderá ainda ser mista com a presença física do porteiro, em horário parcial. Pode ser uma opção antes da instalação da portaria full time.

Os síndicos deveriam pensar numa reunião sobre o assunto para começar a sentir o clima entre os moradores. Vai haver polêmica, sem dúvida. A portaria virtual tem as suas vantagens, ela pode ser monitorada por controle remoto, por exemplo. A empresa que fornece o serviço pode entrar em ação instantaneamente e acionar a polícia em caso de perigo. Há, também, a opção de biometria acoplada ao novo sistema, que está sendo reconhecida como infalível. Será?

Não estamos tomando partido: o porteiro também tem suas virtudes. Ele pode ser chamado pelo nome e, para muitos, ser insubstituível. Falar com gente de carne e osso não é o mesmo que falar com máquinas. O que está claro é que, se o porteiro não veio ao mercado de trabalho para ficar definitivamente atrelado à portaria dos prédios, a tecnologia está demonstrando uma gulodice longe de ser saciada. Transcende o universo dos condomínios: é uma onda oceânica apenas começando a bater na praia, mas que já conseguiu mudar para melhor ou para pior a nossa vida. Está mudando o perfil de síndicos e condôminos. Está mudando nossos hábitos, nosso pensamento.

Não sabemos se a avalanche tecnológica é a maior mudança depois da Revolução Industrial ou da extinção dos grandes répteis. Estamos assistindo a esse fenômeno, sem saber se somos contra ou a favor. Provavelmente somos a favor.  Gostamos de tecnologia. Ela é a nossa distração atual. É claro que, com a portaria virtual, pode haver desemprego. No mercado de trabalho, muitas profissões estão desaparecendo. Seja como for, é emocionante viver em um mundo que se transforma a cada momento. Os condomínios não estão imunes.

Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do SecoviSP e diretor da Hubert.